quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Carta Manifesto - Hoje é Dia de Esquina

É um movimento sem vínculos partidários. Não apoiamos a idéia de partes, partidos, exigimos íntegros e inteiros. Também não temos a intenção de exigir nada do Estado, seja na esfera municipal, estadual ou federal. O que almejamos é estabelecer um diálogo com a população da cidade no sentido de refletir sobre qualidade, bem estar, felicidade e prazer.

A tribuna é, e deve ser, livre para a manifestação e o debate daqueles que pensam a convivência entre comunidades e espaços como sendo uma via orgânica e, como tal, faz-se necessário o abandono de práticas individualistas de pequenos grupos que, bradando por uma teórica baianidade cultural, banalizam e privatizam espaços públicos, desrespeitando a verdadeira necessidade de socialização cultural para o qual estes espaços deveriam estar a serviço.

Não pretendemos aqui cair no utopismo de mudar o mundo, sabemos que os problemas sociais são extensos e profundos demais e passam, necessariamente, pela revisão do sentido de desenvolvimento para a qual estamos nos dirigindo. Esta é uma discussão que necessita ser travada, porém essa é uma esfera muito ampla e o que podemos fazer para nos inserir nesse processo é darmos o nosso pequeno passo. Para isto, basta que levantemos algumas questões básicas como: você acha bom e saudável ter de enfrentar escadas, calçadas, esquinas com um insuportável cheiro de urina humana? Você acha muito bom ver as praças públicas ocupadas de mesas e cadeiras do setor privado? Você adora pisar na areia da praia infectada por dejetos de alimentos e de excreções de bichos como ratos? Você acha maravilhoso estar em seu momento de lazer e reflexão e outro cidadão elevar o som do carro a uma altura infernal impondo-lhe
o seu, pessoal e intransferível, gosto musical?

São perguntas simples que os desafios do dia-a-dia não nos permitem parar e refletir. Eis então a razão de ser desta Carta Manifesto: temos de fazer e responder a estas questões, já não cabe nos omitirmos frente a essa situação, queremos poder ter de volta a possibilidade de reunir a turma na esquina ao fim de tarde. Queremos poder pensar em re-humanizar a cidade.

PARA HUMANIZAR A CIDADE:

1 - Oferecimento de transporte público coletivo de qualidade e por 24 horas/dia, para que, com essa medida, possa ser efetivamente posta em prática a, justíssima, política da “tolerância zero” em relação à bebida alcoólica, sem ser necessário aprisionar a população ao quarteirão de sua residência.

2 - A racional ocupação das praças e calçadões da cidade que foram, tomadas e privatizadas por bares e afins que, com raríssimas exceções, não cuidam da higiene local, deixando-a a cargo da prefeitura que, com os recursos públicos, tem de cuidar da limpeza produzida pela exploração comercial. Cremos poder haver uma ocupação mais harmoniosa entre a exploração comercial e o sentido público.

3 - Não há como varrer a areia da praia. Isso é incontestável, portanto é urgente se repensar as barracas nas areia da praia. Sabemos da importância desse serviço, porém é necessário e imperativo que se crie espaços que possam ser devidamente limpos e higienizados, para a venda de comidas e bebidas, preservando desta forma as areias e evitando a proliferação de problemas indesejáveis.

4 - Limpeza visual da cidade. De grande avanço foi a política da institucionalização dos grafites que, além de retirar da “marginalidade” boa parte dos artistas plásticos de rua, ainda criou um ambiente criativo e contemporâneo à cidade. Mas é necessário limitar a proliferação de placas de outdoor, realizando um estudo profundo sobre a limpeza visual da cidade.

5 - E a poluição sonora! Salvador é uma cidade que carece profundamente de uma reeducação auditiva, sabemos que não é exclusividade nossa, mas necessário se faz que nos posicionemos. Não é mais possível silenciar frente à imposição totalitária de motoristas e suas buzinas. Não cabe, em pleno século XXI, a circulação pela cidade de carros de som aos berros propagando de tudo. E, principalmente, não é mais possível tolerar a imposição de determinadas pessoas que instalam verdadeiros estúdios sonoros em seus automóveis e “estupram” os nossos tímpanos a qualquer hora e em qualquer lugar, com o que elas acham que o bairro deveria estar escutando.

6 – Pensar uma forma racional de relação entre o setor imobiliário e a necessidade de manutenção do arejamento e da preservação das belezas naturais da cidade.

Assim, com o propósito de diálogo, lançamos esta carta à comunidade de Salvador. A cidade pode e deve ser usada pela sua população, fixa e flutuante, como espaço de integração, lazer e fonte de renda. Tudo pode ser feito se for no intuito de valorizar o humano! É hora de retomarmos as ruas como fonte de opção e prazer. Venha! Convidamos todos para aproveitar o sempre fresco final de tarde da nossa cidade, reocupemos as esquinas para alegres e descontraídos encontros.

Salvador, 17 de novembro 2009.

3 comentários:

  1. onde é que eu assino?? Parabéns e queria licença para reproduzir a íntegra dessa carta no meu blog. posso?

    grata!

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  2. claro Miwky, pode sim, é pra divulgar mesmo

    beijos

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  3. Achei a iniciativa fantástica e quando vim morar em Salvador me ressenti dessa falta de vida de rua. Quando será o próximo? Abraços, Irena

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